Set
Seth, também referido como Set (em egípcio antigo: stẖ; em grego clássico: Σήθ; romaniz.: Séth), Setesh, Sutekh, Setekh ou Suty, é um deus egípcio do caos, da seca, da guerra, o senhor da terra vermelha (deserto) onde ele era o equilíbrio para o papel de Hórus como o senhor da terra negra (solo). Em mitos, Seth é o deus da confusão, da desordem e da perturbação, que é enfatizada pela escrita hieroglífica em que o animal de Seth serve como determinante para conceitos negativos (autoritarismo, fúria, crueldade, crise, tumulto, desastre, sofrimento, doença, tempestade). Mestre de trovões e relâmpagos, exerce o seu poder nas margens do Egito, que são terras do deserto, áreas áridas e países fora da planície do Nilo. Seth é um deus complexo.
O seu poder desordenado, no entanto, contribui para o equilíbrio cósmico. De acordo com a visão egípcia, as forças destrutivas estão em constante luta contra as forças positivas. Nesse sentido, Set opõe-se ao seu irmão Osiris, símbolo de terra fértil e nutritiva.
Dos textos das pirâmides, Set é o rival eterno de Hórus. Durante uma luta, ele lambe o olho do seu oponente que, por sua vez, magoa seus testículos. O antagonismo dos dois deuses ilustra a natureza dupla do faraó que une essas duas forças opostas, mas complementares.
Se Hórus é o deus da ordem faraónica, o poder irracional de Set participa no simbolismo real como uma imagem da força violenta e desencadeada que o rei desdobra contra seus inimigos. Protetor de Rá, Set luta contra a cobra Apófis e, assim, participa no bom funcionamento do mundo. Embora perturbador e vinculado a forças indiscriminadamente destrutivas, Set, no entanto, é mais um trickster que um demónio maligno, pelo menos em mitos antigos.
É somente a partir do Terceiro Período Intermediário que a imagem de Set mancha permanentemente, talvez em resposta às sucessivas aquisições de vários povos estrangeiros sobre o Reino do Egito. Set, associado a potências estrangeiras, torna-se o agente maligno da perda do país. Os mitos sobre Set retratam-no como ambicioso, intrigante, manipulador, com foco no assassinato de seu irmão Osiris. Ele é gradualmente confundido com Apófis, a serpente do caos, apesar da antiga tradição que ele lutou contra ele em nome de Rá. O mundo grego identificou-o com o Tifão, o monstro primordial do caos e uma entidade do mal comparável.
No Livro dos Mortos, Set é chamado "O Senhor dos Céus do Norte" e é considerado responsável pelas tempestades e o mau tempo. A história do longo conflito entre Set e Hórus é vista por alguns como uma representação de uma grande batalha entre cultos no Egito cujo culto vencedor pode ter transformado o deus do culto inimigo no deus do mal.
Querendo suceder Osíris, o filho deste, e sobrinho de Set (às vezes indicado como irmão deste), Hórus, trava uma verdadeira batalha para suceder o seu pai, disputando o trono com Set. Set, sentindo-se injustiçado por não assumir o lugar de Osíris, pois segundo ele, é o único deus forte o suficiente para ocupar tal lugar, vai perante os deuses superiores protestar pelo que considera seu direito.
Hórus, o deus da guerra, argumenta com Geb ou, noutras versões do mito, para Rá que é o legítimo herdeiro do trono ao que Set se opõe, dando início a um conflito divino. Na querela entra Ísis, a mãe de Hórus, que convence a Enéade, o conselho dos deuses, a não outorgar em favor de Set. Porém, a Enéade decide reunir-se mais uma vez, agora numa ilha, para julgar o caso, que Ísis é impedida de acompanhar.
Entretanto Ísis disfarçada de idosa suborna o condutor da barca solar, Nemty, com uma jóia e segue os outros deuses até a ilha onde eles se reuniriam. Lá ela transforma-se numa bela moça para seduzir Set e assim conseguir a sua confissão de que na verdade o seu filho de fato era o herdeiro por direito ao trono de Osíris e não ele, fazendo-o mais uma vez protestar com o conselho de deuses sugerindo então um desafio para Hórus onde ambos se metamorfoseariam em hipopótamos para sobreviver alguns meses sob a água. Ísis preocupada com seu filho decide ajudá-lo atirando-lhe um arpão nas águas, mas acaba por atingir Hórus acidentalmente. Ísis fisga então Set que pede por clemência ao que ela consente.
Irritado pela sua mãe o ter ferido, Hórus a ataca e corta a sua cabeça fugindo para o deserto. Após o ocorrido a Enéade decide puni-lo por ferir a sua mãe. Set então tira os olhos de Hórus enquanto dorme. Hator restaura-lhe a visão com leite. Mais uma vez, Hórus apela perante os deuses por equidade sendo que agora esses, falam para Osíris no mundo dos mortos que responde inquirindo por que o seu filho ainda não subiu ao trono, ameaçando-os com uma infestação de demónios. Finalmente após deliberar, Rá decide arbitrar em favor de Hórus e acolhe Set, por fim, na morada dos deuses.
Algumas versões contam que ele era traído por Néftis com Osíris, daí o seu assassinato. O maior defensor dos oprimidos e injustiçados, tinha fama de violento e perigoso, uma verdadeira ameaça. Conta-se que Set ficou com inveja de Osíris e trabalhou incessantemente para destruí-lo (versões contam que Néftis, esposa de Set, fora seduzida por Osíris, o que seria uma ressalva. Anúbis teria sido concebido desta relação).
Formando um corrilho de 72 conspiradores leais (chamados sits) para auxiliá-lo, Set convida Osíris para um festim. No decurso dos manjares, Set apresenta uma magnífica ataúde (sarcófago), e promete dá-la de presente a quem nela coubesse perfeitamente. Os convidados (que, na verdade, eram apenas os sits disfarçados) tentaram ganhar a ataúde, mas sempre sobrava ou faltava um pouco de espaço, dado que Set a tinha preparado nas medidas de Osíris. Convidado por Set, Osíris entra nela, e deita-se. No mesmo instante, o corrilho dos sits tranca a ataúde e atira-a para o fundo do Nilo. As águas violentas arrastam a ataúde, passando pelo Mediterrâneo até finalmente encalhar numa das praias de Biblos, na Fenícia.
Ísis, desesperada com o sucedido, parte à procura do marido, procurando obter todo o tipo de informações dos que encontra pelo caminho. Chegado a Biblos, Ísis descobre que a ataúde ficou presa numa árvore que tinha sido cortada para fazer um sustentáculo no palácio real. Com a ajuda da rainha, Ísis corta o sustentáculo e consegue regressar ao Egito com o corpo do amado, que esconde numa plantação de papiros.
Contudo, Set encontrou a ataúde e, e furioso decide esquartejar em 14 pedaços o corpo, que espalha por todo o Egito; segundo alguns textos do período ptolemaico, teriam sido 16 ou 42 partes. Quanto ao significado destes números, deve-se referir que o 14 é o número de dias que decorre entre a lua cheia e a lua nova e o 42 era o número de províncias em que o Egito se encontrava dividido.
As suas ações fizeram com que a maioria dos outros deuses se voltassem contra ele, mas Set considerava-se incólume e inatacável. Hórus, filho de Ísis e Osíris, conseguiu vingar o pai e matar Set, que acabou demonizado como uma deidade maligna nos mitos egípcios.
Os egípcios geralmente descrevem Set como um homem com a cabeça de um animal fantástico que eles chamavam de animal Seti. Tinha um focinho ponteagudo, orelhas altas e retangulares e um corpo canino fino com uma longa cauda bifurcada. O corpo do animal de Set tinha tufos de pelos na forma de setas invertidas.
A representação de Set mais comum é segurando um ankh numa mão e um báculo na outra. O báculo era longo com a ponta da parte inferior bifurcada e a cabeça do animal Seti na parte superior.
Os egípcios também associaram Set a diferentes animais e às vezes era retratado como um deles. Os animais incluem o javali, o antílope, o crocodilo e o burro. Alguns egípcios também o associaram com criaturas venenosas, como cobras e escorpiões. Em alguns mitos, Set assumiu a forma de um hipopótamo. Embora o mais aceite é que Set seja representado pelo aardvark, que é o que mais se assemelha a Seti.
Os faraós respeitavam Set e o seu poder, pois acreditava-se que Set estava entre os dois deuses que deram o poder e a autoridade dos faraós. Alguns faraós, como Set I, foram nomeados com seu nome e muitos outros usaram o animal Seti como parte do seu emblema.
O primeiro faraó da décima nona dinastia, Ramessés I, veio de uma família que tinha relações com os sacerdotes de Set, fazendo com que muitos dos faraós tivessem os seus nomes trocados para Set, como foi o caso de Seti I e Seti II que significam “Homem de Set”. Segundo REMLER (Egyptian Mythology A to Z, 2010, p. 174) “O animal de Set estava associado com a cor vermelha, a cor do deserto e animais com pelos vermelhos e até mesmo os homens com o cabelo vermelho, foram considerados seguidores de Set”.
Dois grandes festivais foram associados a Set. Um deles era um dos cinco dias intercalados, os 5 dias anteriores ao começou do Ano Novo. Estes foram os dias em que os cinco deuses Osirianos (Osíris, Hórus, Seti, Ísis e Néftis) nasceram. O segundo festival era uma reencenação ritualística para sua honra. Este festival recria a derrota de Hórus contra Set.
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