Mumificação



A mumificação, técnica empregue para preservar o corpo para além da morte, foi praticada não só pelos antigos egípcios como no Alasca, nas ilhas Canárias, na Ásia Central, no México, na América do Sul, no noroeste Europeu e nos Alpes. Destinava-se tanto a preservar os corpos de humanos como os de animais sagrados (bois, gatos, babuínos, íbis e crocodilos). Os praticantes desta técnica acreditavam que preservando os restos mortais, ajudaria a permanecer a alma com vida.

É do Egito, no entanto, que se encontra mais informação relativa aos métodos empregues, sabendo-se que no início apenas se enterravam os mortos na areia envoltos em peles de animais ou tapetes, e fatores climatéricos como o vento e o calor seco preservavam os corpos.

Foi durante a época greco-romana que mais se difundiu a prática da mumificação no Egito. Após a morte de uma pessoa, os familiares encarregavam-se de escolher o embalsamador e, segundo modelos apresentados, elegiam a forma como queriam que o corpo fosse embalsamado e pintado. 

Os embalsamadores utilizavam máscaras (algumas com a representação de Anúbis, deus dos mortos) para proteger dos cheiros e resíduos, sobretudo quando a preparação de uma múmia durava cerca de setenta dias. O seu trabalho, acompanhado por sacerdotes, desenrolava-se na chamada Casa de Purificação ("Ibw") e na Casa da Beleza ("Per Nefer"), preferencialmente junto ao rio, para que a limpeza fosse mais fácil. Como instrumentos de trabalho usavam furadores, colheres, espátulas, pinças e ganchos de cobre. 

Segundo o historiador Heródoto, o processo mais simples constava em lavar o cadáver quatro dias depois da sua morte com óleo de cedro, que desfazia o estômago e os intestinos, dissecando-se em seguida durante cinquenta e dois dias até restarem apenas o esqueleto e a pele, acabando por envolvê-lo em faixas de linho velho pelo período de outros dezasseis. Estas faixas de linho eram intercaladas por amuletos contra perigos diversos.


Relata o mesmo historiador que um processo mais complexo iniciava-se com a extração do cérebro pelas narinas com um gancho de ferro (a partir do Império Médio), após o que retiravam os intestinos por uma abertura feita numa das ilhargas com uma faca. O espaço vazio era lavado com vinho de palma e preenchido com perfumes, canela, mirra e outros componentes, sendo em seguida cosido. Durante os seguintes setenta dias mergulhava-se o corpo em natrão em pó ou líquido - carbonato e bicarbonato de sódio e impurezas -, findos os quais se lavava, envolvia em faixas de pano encerado e pintado com resina, colocava-se no sarcófago, e este, numa sala mortuária.

As vísceras - estômago, pulmões, intestinos e fígado - eram inseridas nos chamados vasos canópicos, que possuíam cabeças de animais identificados com os filhos de Hórus. Estes eram colocados perto do sarcófago, zelando as ditas divindades pela sua conservação.


A partir da XVIII Dinastia iniciou-se o uso de implantes subcutâneos para conferir relevo a partes como as pernas, os braços e o pescoço, sendo que na XXI tornou-se prática comum entre os mais abastados efetuar este preenchimento com materiais como lama e linho.

Crê-se que as mais antigas múmias datam da II Dinastia e foram encontradas em Sakara.

 

Tipos de Mumificação

 Mumificação solar do Egito faraónico

O Faraó morre e o seu cadáver é cozinhado até as carnes se desprenderem dos ossos. Os ossos são pintados de vermelho, enfaixados, fazendo-se uma armazenamento na múmia com gesso. Pinta-se o retrato da pessoa na própria múmia. E esta forma-se ao mesmo tempo numa estátua Ka, ou seja, uma estátua que vai abrigar a alma do morto. Deixavam o corpo ao Sol, pois acreditava-se que o Sol era o principal deus e traria luz para a alma. As instruções mais antigas conhecidas para a antiga arte de embalsamar múmias foram recentemente descobertas num papiro médico do antigo Egito. Descrições de como fazer o processo de mumificação são excecionalmente raras no registro arqueológico. Um exemplo de 2021, encontrado num antigo pergaminho datado de cerca de 1450 a.C., é anterior a outros textos de mumificação em mais de 1 000 anos.


Mumificação osiriana

Este é o processo que mais conhecemos e o que se tornou mais utilizado. Para o Faraó, para a nobreza e pessoas mais ricas, era feita da seguinte forma:

O cérebro é tirado pelas narinas, através de um instrumento curvo, mexe-se com o objeto no cérebro, que é uma massa mole, e este desfaz-se. Injeta-se vinho de tâmara, para ajudar a dissolver mais o cérebro. Vira-se o morto e o cérebro escorre pelas narinas;

É aberta uma incisão no abdómen e todos os órgãos internos, exceto o coração, são retirados, embalsamados e colocados nos jarros canópicos. De seguida, o corpo é enchido com saquinhos de sal (Natrão) e mergulhado numa espécie de bacia um pouco inclinada com um furo de um lado, para que seus líquidos escorram. Após isso, a múmia é literalmente enterrada por 72 dias. O sal absorve todo o líquido do corpo;

Após estes 72 dias, o corpo, que está escurecido e ressecado, é retirado. Enxertam-se resinas, aromas, perfumes, ligaduras, pó de serra, isto para dar a conformação do corpo. Depois disto, a abertura no abdómen é costurada, e é colocada uma placa mágica, geralmente com o desenho dos Quatro filhos de Hórus e do seu olho;

Começa, então, o processo de enfaixamento com metros e metros de tiras de pano de linho com goma arábica, até fazer a composição que vemos nas múmias. A cada volta, colocam-se amuletos e colares. Assim a múmia está pronta para o enterro, sendo que no caso do Faraó este enterro era acompanhado de um extenso ritual, repleto de encantamentos, realizado por sacerdotes.


Mumificação para pessoas de classe baixa

Dão uma injeção de essências e de vinhos corrosivos através do ânus, põe-se uma espécie de tampão e depois de alguns dias tiram-no e o que dissolveu. Seguidamente enfaixam a múmia e devolvem o corpo aos familiares.

Quando as múmias foram encontradas, muitas foram comercializadas e quando o seu comércio acabou e mais ninguém se interessava em comprá-las, alguns ladrões de túmulos decidiram triturar as múmias e comercializá-las como pó para fazer chá. Muitas pessoas adquiriram este pó achando que haveria algum poder de cura para as suas doenças.


Mumificação na atualidade

A mumificação também é um fenómeno natural, sendo o resultado de cadáveres que são enterrados em terreno seco, quente e arejado. O cadáver sofre uma desidratação rápida e intensa, e o corpo não entra em decomposição, pois a fauna cadavérica não resiste e a pele do cadáver fica com aspeto de couro. Um exemplos de mumificação natural ocorreu em Buenos Aires, quando o corpo de María Cristina Fontana foi encontrado na sua residência, em 2014, depois de mais de dois anos em que o seu corpo ficou estendido no chão dos seus aposentos, sem nenhum contato humano e mumificou-se naturalmente.

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